domingo, 7 de junho de 2009

A primeira vez a gente nunca esquece


Pode ser que, influenciados pelo título acima sugerido, o pudor ou o bom senso dos fiéis leitores os impeçam de me acompanhar para além do final desta frase. Aos que, no entanto, resolveram me dar um voto de confiança, por reconhecerem neste que vos escreve predicados suficientes para assegurar que nunca este espaço sucumbiria a narração de detalhes íntimos, - algo que já se tornou tão banal entre as pseudocelebridades - esclareço: não é nada do que você está pensando!
A estreia a que me refiro é tão somente a de um jovem pai, às voltas com a organização da primeira festa infantil. Ah bom, melhor assim. O fato é que, em meados do próximo mês, Vicente, meu filho, estará completando um ano, data que sem dúvida merece ser comemorada.

O bolinho para a família (sugestão minha, claro) foi descartado pela mãe dele antes que eu pudesse reunir argumentos suficientemente convincentes. Defendia, em vão, aquela conhecida tese que lança dúvidas sobre o sentido de se fazer uma festa de grandes proporções para alguém com tão pouca idade.

Durante a negociação, que assumiu ares de batalha campal, fuzilado por pesada artilharia de argumentos emocionais e sem ter outra alternativa, retirei meu exército do front, decretando rendição imediata sem impor condições; a festa será no play, terá mesa decorada, arco de bolas, recreação e quase setenta convidados, dentre os quais mais de 25 com menos de oito anos.

São nestas horas que a vida nos permite contemplar a engenhosidade de seu magnífico teatro, constantemente nos instigando a interpretar novos personagens. Quando moleque, eu amava as festas; na adolescência passei a odiá-las; e depois de adulto deixei de ter qualquer relação com as mesmas. Agora me vejo no papel do sujeito suadinho e estressado do qual sempre tive pena.

Aquele, responsável por se certificar de que os salgadinhos vão ser servidos quentes e as cervejas, geladas. O cara que paga pelo divertimento e a comilança alheia, embora passe quase todo tempo da festa resolvendo pepinos sem se divertir, nem comer, e que, ao final, ainda precisa carregar pra casa toda a tralha que foi deixada para trás.

O pior nem é isso. É pensar que a realização deste tipo de evento costuma render outros convites. Uma festa puxa a outra. É como se associar a um seleto clube onde volta e meia um dos sócios tem de pagar o pato. A bola da vez sou eu. Aceito a honraria com resignação, muito embora não possa deixar de relacioná-la ao clássico filme de horror trash oitentista “Pague para entrar, reze para sair”.

Aos amigos que se sentirem excluídos de participar deste momento especial, peço que não se zanguem. Por questões orçamentárias, ou talvez por estimá-los demais, restringi os convites apenas aos que têm filhos. Caso o motivo lhes soe estranho, meu conselho é que acostumem-se o quanto antes. Depois dos trinta a sensação será mais e mais familiar.

Enquanto a criançada endiabrada estiver pisoteando pipoca, tacando coxinhas uns nos outros, desenrolando o papel higiênico do banheiro e colando brigadeiros debaixo do tampo das mesas, espero alcançar a plenitude e sorrir ao dizer: está é só a primeira de muitas…

Nenhum comentário: