segunda-feira, 14 de novembro de 2011

“Tchamo”

– Então tá combinado, na quarta, depois do trabalho, eu passo aí pra te buscar, ok?
– Vou ficar contando as horas…
– Eu também…
– Bom, acho que por hoje chega, né? Se eu pudesse ficava conversando até o dia amanhecer, mas infelizmente tenho que desligar.
– Ahhhh…
– É que vou ter que acordar cedo amanhã, você sabe; mas de noite a gente fala mais, prometo. Olha, um beijão, lindo, sonha comigo, tá?
– Sonho sim.
– Tchau…
– … nossa! Quantas vezes imaginei esse momento! Agora que aconteceu fiquei até nervoso, porque achei que você nunca ia dizer isso, já estava até meio grilado. Pô, eu também te amo, muito, a cada dia mais!
– (…)
– Oiiii, cê tá aí ainda?
– Tô.
– Que foi, linda, ficou emocionada?
– Não, é que…  esquece.
– Tá tudo bem aí?
– Tá sim, deve ser o sono mesmo.
– Sono? Depois de 2 meses de namoro você finalmente diz que me ama pela primeira vez, daí eu digo que te amo também… desculpa, tô feliz demais pra desligar o telefone agora!
– Querido, tenho uma coisa pra te dizer, mas não quero que você fique chateado…
– Chateado? Como assim?
–  É que eu gosto muito de você, tô adorando te namorar e tudo, mas acho que aconteceu um mal entendido…
– Como assim “mal entendido”?
– É que, assim, quando eu estava me despedindo, acho que você entendeu errado uma coisa que eu disse…
– Quando você disse “eu te amo”?
– É, quer dizer, não, eu não disse isso, eu disse só “Tchau”.
– “Tchau”???? Você disse “tchau”?
– Foi.
– Peraí, eu não fiquei surdo de repente, você disse “te amo”!
– Não, eu disse tchau, mas acho que falei meio baixo e meio rápido, sei lá, tipo “tchamo”, daí ficou parecendo o que você entendeu, mas tudo bem…
– Como “tudo bem”? Pelo menos pra mim, “tchau” e “te amo” são coisas muito diferentes!
– Lindo, vamos deixar isso pra lá… eu só acho que a gente tem que ir com calma. Amanhã conversamos melhor, poxa, eu gosto tanto de você…
– É, né? Mas pelo visto não ama…
– Pronto, ficou bravo… olha, …
– Não, tudo bem, tudo bem, já entendi, tá certo. Foi bom mesmo pra eu aprender…
– Aprender o quê?
– Aprender a não me apaixonar mais pela pessoa errada.
– Nossa, não tô acreditando que você disse isso! Tô sem palavras aqui, que grosso! E que fresco também, parece até criança, fazendo tempestade num copo d’água!
– Então é isso que nossa relação significa pra você, um copo d’agua? Você diz com todas as letras que não me ama e eu ainda levo a culpa?
– Ah, depois dessa eu vou ter que desligar! Vamos terminar por aqui essa conversa antes que seja tarde demais, viu?
– Por mim já está terminada. E quer saber: pode esquecer jantarzinho romântico na quarta a noite, não tem mais clima.
– Ah é? Então tá bom, faz o seguinte: nem me liga mais!
– Beleza, nem precisava pedir!
– Tchau! E agora eu disse “tchau” mesmo, tá, seu surdo sentimentalóide!

Texto copiado do Instante Posterior do Bruno Medina

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